quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O 2012 após o plebiscito

por Tiberio Alloggio (*)
O 2011 foi um ano importante para o Brasil. O país testou sua primeira presidente mulher e ficou feliz com sua escolha. Finalmente, o povo tocou com mão, que não é o sexo ou a sexualidade das pessoas que vale, mas sim a sua substancia.
A economia nacional segue crescendo, fazendo com que o astral dos brasileiros continue alto. Apesar da crise mundial se aproximar a cada dia, as Casas Bahia continuam vendendo como nunca, e os brasileiros, felizes da vida, seguem consumindo e se endividando.
Sem dúvida, um bom 2011, mas que para os santarenos, ficou um pouco mais tribulado.
Na primeiro semestre, a euforia pelo anúncio do plebiscito sobre a criação do Estado do Tapajós. No segundo semestre, a campanha pelo SIM. E no finzinho do ano, a desilusão com a constatação que o sonho morreu nas urnas.
Na verdade, o SIM ganhou disparado no Tapajós e no Carajás. Mas foi o NÂO que levou, graça à “mágica” de seu território ter quase o dobro da população do estado.
Na realidade, o plebiscito não passou de um “truque”. Uma disputa desigual, onde um falso “majoritarismo” estrangulou o sonho da “proporcionalidade democrática”.
Uma maneira “falsamente democrática” e propositalmente orquestrada para barrar (por enquanto) a luta pela criação de novos estados no Brasil. Uma consulta popular para inglês ver, que não dava chances nenhuma ao SIM. Enfim, um referendo de “carta marcadas”.
Infelizmente poucos se deram conta disso. Muitas lideranças, achando que podiam ganhar no voto, se entusiasmaram demais, e não levaram em conta a enorme desproporcionalidade entre as populações do Pará e do Tapajós/Carajás. E acabaram caindo no “conto do vigário”.
Imaginem se esse mesmo “expediente de consulta” viesse a ser usado no Estado do Amazonas para decidir a criação dos novos territórios do Solimões e do Rio Negro. Manaus que concentra o poder econômico e possui mais de 80% da população, esmagaria numa cartada só, todos os sonhos de desenvolvimento dos demais territórios. Seria considerada a fraude democrática do seculo.
Mas, apesar do sabor amargo da fraude plebiscitaria, a consulta serviu para tirar algumas lições e algumas indicações.
Em primeiro lugar, teve o mérito de retirar de Santarém, o “monopólio” sobre a luta pela emancipação do Tapajós. O plebiscito permitiu que o vírus da emancipação se espalhasse e contaminasse os municípios do oeste paraense, evidenciando o desejo de emancipação da totalidade dos moradores da região.
Radiografou uma fratura exposta entre as populações do Tapajós e Carajás, com a cultura de Governo do Grão Pará, que terá que rever sua postura autoritária e discriminatória.
Mostrou que está esgotado o atual modelo organizativo do movimento emancipatório, sem lideranças popular, totalmente subordinado ao oportunismo da elite politica e empresarial de Santarém.
Favoreceu o surgimento de novas articulações populares, que souberam levantar a bandeira da emancipação, desvinculado-se dos interesses do esquema politico tradicional, e abrindo uma nova perspectiva para o movimento emancipacionista.
Com a entrada de 2012, o espaço politico será ocupado pelas eleições municipais que jogarão um balde de água fria sobre as pulsões emancipacionistas, mas mesmo assim, o plebiscito deixará sua marca maldita (ou bendita) em muitos políticos prefeituraveis.
Quem mais saiu fortalecido na batalha plebiscitária, foram sem duvida nenhuma os deputados federais Giovanni Queiroz (PDT) e Lira Maia (DEM). Mesmo perdendo o plebiscito, os dois derrubaram o muro da representação localista e se tornaram nomes fortes no cenário politico estadual. Queiroz (cotado para ser Ministro do Trabalho) e Lira Maia, emergiram como políticos chave do Estado do Pará, podendo enxergar futuros horizontes majoritários. Se candidato for, Lira Maia é hoje um nome quase que imbatível para a Prefeitura de Santarém.
Alexandre Von abusou pelo oportunismo e ficou escondido durante a campanha toda. Não quis desagradar seu patrão Simão Jatene e declarou voto só momentos antes da votação. Mas foi leso (após o resultado) em aparecer na TV para lamentar a derrota e jurar (de dedo cruzado) que irá continuar a luta até o fim. Queimou mais da metade do seu filme.
O vereador Reginado Campos gastou a vida toda para construir uma imagem de separatista. Manteve a postura e incansável andou pelo Oeste todo em busca de apoio. Quem sabe, desta vez, não tenha aprendido a fazer alianças sadias, e se arrependido de ter sido cabo eleitoral de Zenaldo Coutinho nessa região.
Osmando Figueredo agregou musculatura ao seu partido. Entrou com tudo e algo mais na batalha referendária. O PDT é o único partido, que apoia à divisão territorial, e Osmando será um dos que dará as cartas nas composições das coligações partidárias municipais.
O vice-governador Helenilson Pontes foi o avestruz desse plebiscito e sua vitima mais ilustre. O Vice conseguiu decepcionar todo mundo. Sua omissão ingenua e covarde em relação a re divisão territorial, sua submissão ao Governador do Grão Pará e à oligarquia Belenense, queimou as ultimas “pontes” que o ligavam à região e ao município de Santarém. É mais um “factoide” politico, surgido do caldeirão da Associação Empresarial que vai. Se tiver futuro politico, vai ser em Bragança, Castanhal, quem sabe até em Belém.