Criminoso. Não há outra palavra para definir o comportamento do
presidente do Conselho Regional de
Medicina de Minas Gerais, João
Batista
Gomes Soares. O fanfarrão declarou, com todas as letras, que vai
orientar os médicos a não socorrerem eventuais erros dos cubanos que
foram contratados pelo governo para trabalhar em áreas carentes. O
cidadão está incitando profissionais da saúde a omitir socorro a quem
eventualmente precisar.
O cara não teve nem a decência de manter a palavra. Quando viu o
tamanho da barbaridade que falou, tentou consertar: "Nós não temos que
socorrer o médico cubano, nós temos que socorrer o paciente". Essa frase
capenga não consegue esconder o
principal: a fú
ria
que despertou em certa parcela da população, supostamente esclarecida, a
vinda dos jalecos cubanos. A máscara caiu. Entraram em desespero, estão
apelando, enlouqueceram. Por puro ódio. Ou vergonha do próprio egoísmo.
Não há outra explicação.
Não adianta a enorme lista de argumentos a favor do
programa
Mais Médicos. Nada vai amenizar os instintos primitivos daqueles que
simplesmente querem que tudo permaneça exatamente como está. Que
continuem morrendo os
milhares
de brasileiros nos rincões deste País em que não há um único médico num
raio de centenas de quilômetros. É pra esses lugares esquecidos que vai
essa legião estrangeira.
Mas a turma do jaleco engomado quer mais que o povo, literalmente,
morra. Porque nenhum brasileiro, muito menos os formados nas
universidades públicas, quer ir para onde essa turma de missionários
está indo. A máscara caiu no momento em que o governo abriu as
inscrições para as vagas e nenhum, absolutamente nenhum, médico
brasileiro se dispôs a enfrentar a porrada que é atender os mais
necessitados — e , sim, em condições precárias, quando não inexistentes.
Agora, da maneira mais hipócrita, daquela forma maléfica que nossas
elites têm quando não conseguem mais esconder seu individualismo, sua
mesquinhez, sua alma pequeno burguesa, aparecem com o último argumento
que lhes restou: os médicos cubanos são escravos. Escravos! Eles serão
usurpados pelo governo da Ilha Maldita, separados de suas famílias e,
quem sabe, carregarão bolas de ferro amarradas aos pés. Dai-nos
paciência.
Sem ficar alimentando esse falso debate, só exponho um argumento
contra essa falácia. Os cubanos são voluntários. Vou repetir:
voluntários. E desconheço alguém que voluntariamente aceite ser
escravizado. Eles serão remunerados, dentro de um programa que já foi
implantado em mais de cem países, com competência e sucesso reconhecidos
internacionalmente. Menos aqui no Brasil. Claro.
Um sistema político que consegue criar um excedente de médicos, a
ponto de espalhá-los pelo mundo, sempre em regiões de extrema pobreza,
merece ser tratado com um mínimo de respeito. E não sofrer os ataques
violentos e irracionais que temos presenciado, principalmente nas
páginas dos grandes jornais e revistas e nas telas dos telejornais dos
barões da mídia. É a política, estúpido!
Quanto ao cidadão do CRM, só digo uma coisa: o que ele declarou, além
de criminoso, é patético: nenhum paciente atendido por um médico cubano
(que eventualmente erre) vai ser depois socorrido por médicos
brasileiros, por um único motivo: eles não estarão lá.