sábado, 19 de dezembro de 2009

Morte a Leviatã - Paulo Paixão


Areia, água, vento, uma dose de rum

Com gelo, coca, uma rodela de limão

E o pensamento ativado, vencendo espaços,

O tempo, permitindo a evasão das dores,

Dos amores que se foram, das recordações!

Quero gritar mais alto que o estampido

Do mais horrendo trovão para que os

Anjos de Deus me ouçam, saiam do marasmo:

Que façam guerra de morte aos anseios de Leviatã,

Príncipe dos predadores do planeta Terra!

Dói em nós, humanos do bem, a agonia

Das reses nos holocaustos dos matadouros;

A apreensão e prisão de animais, que outrora,

Livres corriam e pulavam ou nadavam

Nos campos, nas árvores e nos igarapés...

Matas, serras, relvas, vales e planícies...

Só os vejo originais nas telas de Michaud,

O que d’antes fora a Mata Atlântica!

E nas telas de Lili, João Fona ou

Laurimar Leal , a Coroa de Areia...

Como dizia o velho poeta:

- É o império do mal na Terra!

Na mente ainda ressoa o canto monótono

Da juruti, do paraíso que nossos avós,

Com carinho, chamavam, Mapiri!

E assim o homem dá cabo das levezas

Que dão graça ao mundo.

Só me contento ao dizer maravilhado,

Bem do fundo da alma:

- Ainda temos Alter-do-Chão!

Alter-do-Chão, o chão que beijou os pés de Deus.

O jardim do Éden onde tudo aconteceu.

Hoje, muito tempo depois, malgrado a algidez

Dos corações, a poesia ressurge nas maresias

Do rio azul e dos verdes lagos.

Caminha de mãos-dadas com os romeiros

Das procissões do Sairé.

Poesia que o poeta cria ao mergulhar

No imaginário dos ribeirinhos-boraris;

Ao ver um panorama encantado,

Belo como uma fábula de La Fontaine

Ou um romance de Shakespeare...

Sentado sobre a úmida areia e os

Olhos perdidos nos azuis do horizonte,

Onde o Tapajós se une ao céu

Fonte inconteste das minhas inspirações,

Reflito a vida e concordo em achar

Que deve ser vivida até o seu extremo.

No justo limite onde se inicia

O Mistério de Deus!

Que por ser homem do bem

E valorizar o dom da vida,

Valeu a pena, sim, toda a vida vivida!

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