terça-feira, 13 de outubro de 2009

Artigo de Tiberio Alloggio - Eu fico com o Governo



por Tiberio Alloggio (*)

Enquanto os oposicionistas não entendem como seja possível criticar um governo e ao mesmo tempo apoiá-lo. Muitos governistas vem me questionando todas as vezes que movo alguma critica ao governo. Segundo essa lógica restrita que afeta ambos os lados, quem apoia o governo não deve criticá-lo, e quem critica o governo não pode apoiá-lo.

Para expressar meu ponto de vista, nada melhor que fugir das ideologias e contar uma experiência que tive em uma das raras ocasiões em que exerci o “poder”.

Teve uma época que cheguei a ser síndico do condomínio onde funcionava o escritório do meu trabalho. O edifício era novo e como não dispunha nem de zelador, achei ingenuamente que poderia ser a pessoa ideal para administrá-lo.

No começo, as coisas correram maravilhosamente. Administrava procurando informar em reuniões e relatórios tudo que estava sendo feito. E todo mundo era meu amigo.

Mas, foi só ocorrer um problema para que tudo mudasse. Um morador que havia recebido a conta de água depois do vencimento, me ligou acusando a companhia responsável de não querer resolver o seu problema.

Tomei as partes do inquilino e falei com o responsável que, para minha surpresa, relatou tudo o contrário do que a pessoa havia me dito. A companhia havia oferecido várias alternativas (sem juros), mas o inquilino, raivoso e agressivo, recusava todas.

Querendo intermediar, voltei a falar com o morador contando o que a companhia havia me informado. Nada feito. E, como se eu estivesse do lado da companhia, a pessoa começou a engrossar comigo. Enquanto eu estava tentando ajudá-lo, ele vinha com toda fúria contra mim.

Mas como nunca fui frouxo, e na época carecia de uma visão política mais estratégica, acabei por responder no mesmo tom. E a discussão foi encerrada de maneira pouco amistosa.

E foi ali que começou o meu inferno. Na reunião seguinte, só pelo desejo de vingança, essa pessoa tomou uma posição totalmente contrária a mim.

Tínhamos muitos problemas para resolver, mas o “oposicionista” pelo fato de influenciar três outros moradores (parentes dele) os inviabilizavas. Juntos conseguiam ter maioria entre os quatros gatos pingados que compareciam às reuniões.

Dessa forma, acabei amarrado, pois nada do que precisasse de maioria passava. Tentei diminuir ao mínimo as votações. Mas, nem isso funcionou, pois a “oposição” ficava reclamando o tempo todo. Pelo gosto de me ferrar, estavam dispostos em prejudicar a si próprios, e o condomínio ficou no caos..

Até que meu saco explodiu e mandei tudo aquilo à merda. Pedi “demissão” e coloquei o cargo à disposição da “oposição”. Aí, vejam só, NINGUÉM quis assumir! E o condomínio acabou entregue às baratas.

Depois de um tempo, a “oposição” convenceu um otário que nunca havia participado de nada a assumir o cargo. Nem preciso dizer que foi um desastre.

Para piorar, apareceram rachaduras no prédio. Depois de ter alertado os moradores, um deles, preocupado com a situação, me procurou para ver o que podíamos fazer. Outros moradores se somaram concordando em buscar alguém confiável para assumir o condomínio.

Mas tudo tinha que ser feito às escondidas, para que ninguém desconfiasse que eu estava nessa, pois muitos da “oposição” tinham ódio de mim!

Uma vez empossado, o novo presidente explicou a grave situação das rachaduras provocadas pela baixa qualidade dos materiais de construção. E muitos processos contra a construtora correram na Justiça.

A administração voltou a ser transparente e várias obras necessárias foram realizadas, inclusive com o “apoio inconsciente” da turma da “oposição raivosa”.

Existiam problemas na nova administração? Claro que sim. Mas eu que havia me empenhado tanto em elegê-la, não era tão louco de querer prejudicar o novo presidente, que com os poucos recursos que dispunha estava fazendo o que podia.

Naquela altura, já havia aprendido que era melhor apontar de forma reservada os problemas, ao mesmo tempo em que oferecia ajuda para solucioná-los.

Primeiro, porque foi a minha ingenuidade política que provocou a “oposição irracional” à minha administração. Segundo, porque já havia experimentado o que significa pessoas despreparadas administrarem as coisas da comunidade apenas para satisfazer suas necessidades e desejos mesquinhos.

Enfim… a analogia ficou clara? Ou será que preciso dizer mais alguma coisa?

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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente o blog do Jeso (www.jesocarneiro.com)

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