Tiberio Alloggio (*)
Quem nutria grandes esperanças sobre o sucesso da Conferencia de Copenhague já anda cabisbaixo. O acordo entre China e EUA em não pré-definir metas para e diminuição de suas emissões de gases na atmosfera abalaram as expectativas positivas antes mesmo da Conferência começar.
Se para os ambientalistas a frustração já é tamanha, ainda maior o será para uma grande porção de empresários que davam como favas contadas a aprovação do REED (pagamento para serviços ambientais prestados).
A impressão que fica é que as negociações, além de estar sendo mal conduzidas, continuam focadas em questões meramente ecológicas.
A Conferência do Clima não pode ser entendida apenas como uma questão ambiental. Ela é também uma questão econômica, e se continuarem em desconsiderar esse fator, não haverá avanços.
Nesse sentido, o que está pegando mesmo é a pressão dos países ricos sobre os “emergentes”. Ou seja, a pretensão dos ricos para que os “novos ricos” venham a ter as mesmas obrigações deles.
Enquanto isso, os países emergentes (do quais Lula é porta-voz) continuam sustentando a tese que são os países ricos (que já desmataram) que devem pagar a conta.
Lula e o Brasil mantêm a estratégia de responsabilizar os países ricos pelo aquecimento global, principalmente pelo que fizeram no passado. É um conceito de “dívida” ambiental que pode não funcionar se os “emergentes” não oferecerem contrapartidas.
Eles não querem prejudicar o próprio crescimento econômico. Que foi um dos motivos pelo qual o Brasil não queria assumir compromissos de redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEEs).
Mas como a maioria das fonte de emissões brasileiras não são produzidas pela indústria, mas sim pelo desmatamento das florestas, a redução do desmatamento não tem como comprometer o crescimento econômico, pois a maioria do desmatamento é resultante da incultura e dos interesses predatórios escusos.
Além do mais, o Brasil possui território suficiente para aumentar a sua produção agropecuária, sem necessidade de desmatar. Enquanto para a redução das emissões do setor de transportes tem na manga a carta da alternativa dos biocombustíveis.
Ao valorizar mais a floresta preservada do que a desmatada, o Brasil resolveu assumir metas de redução das emissões que não comprometem seu crescimento econômico.
Por isso, o Brasil acabou por anunciar suas metas de redução antes da conferencia, mas mesmo assim não conseguiu que China e EUA mostrassem as suas.
Por ter antecipado as metas, antes do acordo anunciado pelos Chino-Americano, Lula e o Brasil deverão se sair bem na foto. E não poderão ser culpado pelo eventual fracasso da conferencia. Na qual, poderão cobrar metas e recursos aos demais países ricos.
Enfim, o Brasil continua bem no jogo.
Essa postura brasileira, teria sido mais uma intuição de Lula, ou o resultado de sua estrela?
Embalado pela imensa popularidade interna, Lula parece estar mostrando certeza que irá salvar a Conferência do Clima em Copenhague.
Nesse sentido, não se pode esquecer que sua popularidade não é apenas interna, mas que o presidente do Brasil goza também de uma imensa popularidade externa. Alcançada pelo seu carisma pessoal.
Ao assumir metas, e exigir que os demais também as assumam, em escalas maiores (no caso dos países ricos), Lula deu mais uma tacada de mestre.
Mas tudo indica que com o acordo China-EUA, Lula e o Brasil terão que se contentar (por enquanto) com promessas vagas de dinheiro para subsidiar a redução do desmatamento.
E que, inclusive, será cobrado para demonstrar que as metas propostas para acabar com o desmatamento são viáveis, e não apenas “meras intenções”.
Enfim, o jogo em Copenhague está apenas começando.
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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente no www.jesocarneiro.com.br
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