A cidade viveu mais um dia "daqueles" na última terça-feira, 31 de março. Não se tem notícia de chuva maior, pelo menos nos últimos 20 anos. Choveu sem parar durante 14 horas em Belém. A umidade relativa do ar "bateu" nos 97 graus, ou seja, a cidade por pouco não se dissolveu. Com as águas de março, temos de conviver com muitos "tombos da ribanceira" no cenário de caos e terra arrasada em que a cidade se transforma a cada nova chuva. É certo que as mazelas urbanas podem ser debitadas a muitos atores do passado, agentes públicos que em várias gestões deixaram de realizar as obras de saneamento básico que há muito a cidade reclama, por omissão ou simplesmente por entenderem que tais ações não rendem votos... Nem por isso o atual gestor da cidade pode transferir suas responsabilidades, culpando a natureza ou, simplesmente, atribuindo esse quadro de abandono a "heranças malditas". A terça-feira do caos revelou uma cidade sem governo e uma população assustada e perplexa.
Com os canais transbordando, as ruas viraram rios, muitos carros enguiçaram e o trânsito, já complicado, simplesmente parou. Casas inundadas de água e lama, pessoas aflitas tentando carregar seus pertences "salvados" davam as cores dramáticas de uma cidade abandonada à própria sorte e à beira do estado de calamidade pública. Nessas horas, simplesmente não se vê um só agente público nas ruas... Todos parecem mergulhar nas águas da indiferença e da omissão. Os guardas da CTBel, tão ágeis no manuseio do talão de multas, também somem, certamente por entenderem que os carros parados não podem ser multados...
O caos só não é mais desolador porque surgem, nessas horas, os chamados "líderes-temporões", pessoas do bem que se dispõem a servir seus semelhantes e ajudá-los em situações de risco, sem nada cobrar em troca. Paralisado durante duas horas no trânsito engessado, assistimos ao trabalho voluntário desses verdadeiros "anjos do asfalto". Em tais momentos, somos levados a acreditar que nem tudo está perdido quando ainda existem pessoas capazes de tão edificantes gestos de solidariedade e desprendimento. Valores difíceis de serem encontrados em gestores eleitos para cuidar da "coisa pública", que, em sua maioria, confundem com a "privada".
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Há uma grave crise de governabilidade em Belém, que também se reflete no estado agônico da saúde pública, com seguidas mortes por omissão de socorro nos pronto-socorros municipais, que não dispõem de médicos plantonistas em todos os turnos, sem falar no sucateamento de suas instalações e da falta de medicamentos básicos.
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Gestores de uma cidade como Belém, quase flutuando sobre uma lâmina de água,
não podem alegar surpresa ou perplexidade com o fenômeno das águas de março, simplesmente porque todos os anos ele se repete, atualmente com maior intensidade, em razão das alterações climáticas provocadas pelo desmatamento e outras ações predatórias do homem sobre o meio ambiente.
Canais, valas e bueiros entupidos de lixo, que provocam os alagamentos de vias e monumentais engarrafamentos também revelam incompetência e omissão dos agentes públicos. Drenagens periódicas nos canais poderiam reduzir bastante seus efeitos sobre a população que mora nas partes mais baixas da cidade.
Os problemas da cidade estão se agravando diante da absoluta falta de providências e soluções, por mais simples que sejam.
Há uma grave crise de governabilidade em Belém, que também se reflete no estado agônico da saúde pública, com seguidas mortes por omissão de socorro nos pronto-socorros municipais, que não dispõem de médicos plantonistas em todos os turnos, sem falar no sucateamento de suas instalações e da falta de medicamentos básicos.
Enquanto isso, o prefeito Duciomar está "consumindo energias" para impedir a CPI da Saúde, planejando construir pontes para ligar Outeiro a Mosqueiro e arrumando as malas para um "périplo" pela Itália... Para o homem das "obras estruturantes" não existe crise. Que crise? Afinal, sua visão sobre os problemas urbanos de Belém deve estar totalmente "collorida" , pois sua "ótica" é genérica...
Postado no http://blogdoespacoaberto.blogspot.com/, em 03.04.2009
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