sábado, 1 de maio de 2010

Complexo de Vira Lata!


por Tiberio Alloggio (*)

Ao acompanhar as revistas (nacionais e internacionais) que não sejam produto da farofaria do PIG (Partido da Imprensa Golpista), a impressão que se têm é de que o Brasil do futuro já chegou.

Nesta segunda década que se inicia, o PIB do Brasil deverá se tornar o 5° do mundo, fazendo com que o G-8 se torne um grupo superado, substituído pelo G-20 com um Brasil sempre presente nas reuniões de “alta cúpula mundial”.

O pré-sal e os biocombustíveis deverão transformar o Brasil num dos maiores supridores de energia do mundo. Enquanto como produtor de proteínas vegetais e animais, já é o grande celeiro do mundo.

O Brasil conquistou a condição de sede da Copa 2014 e das Olimpíadas de 2016, os dois maiores eventos esportivos e midiáticos mundiais.

Mas será que tudo isso será suficiente para os brasileiros superar o “complexo de vira-lata” que os aflige desde 1950?

O “complexo de vira-lata” foi cunhado por Nélson Rodrigues após a derrota da seleção brasileira para a uruguaia no Maracanã.
Naquela época, o Brasil só se contentava com Carmem Miranda, a única brasileira (portuguesa de nascimento) com algum renome internacional. E qualquer notícia sobre o Brasil nos jornais do exterior, ainda que de centímetros, eram reproduzidas pela mídia nacional, como se o Brasil fosse reconhecido pelo mundo afora.

Na falta de outras celebridades, a elite midiática achava que o futebol era a única maneira de mostrar o Brasil ao mundo. Uma esperança que desabou naquele fatídico jogo de 16 de julho de 1950.

Italianos como eu, que já passaram dos cinquenta, viveram uma paixão inexplicável pela América do Sul. Principalmente pelo mito de Fidel e Che Guevara, mas também ouvia-se muito sobre JK, do “País do futuro” e do seu sonho de construir Brasília.

Os “golpes e as ditaduras militares” só fizeram aumentar o interesse pela América Latina. E graça a influencia de artistas como Chico Buarque (exilados na Itália) acabamos todos torcendo pelo Brasil.

Nos anos 80, Lula já era um mito. Ainda que restrito ao movimento social e sindical, ele já era considerado “o cara”. Dirigentes políticos e sindicais italianos e europeus bebiam de sua sabedoria, dando como certa sua ascensão à presidência, livrando finalmente o Brasil do complexo de “vira lata”.

Mas o PIG (Partido da Imprensa Golpista) e sobretudo a Rede Globo, os derrotaram.

Para impedir a sua vitória, além das costumeiras manipulações, o golpismo midiático, “produziu” um suposto “Caçador de Marajás”. E o Brasil amargou mais 15 anos de submissão aos desfiles das raças puras norte-americana e europeia.

Em 2002, Lula venceu o medo e o Brasil do futuro chegou. Não apenas pelos indicadores econômicos e sociais ou a escolha como sede da Copa e das Olimpíadas.

O Brasil de hoje, além de ser um dos queridinhos dos investidores internacionais, ao ponto de causar problemas com a sobrevalorização do real, é um País menos desigual

Enquanto Lula continua sendo considerado pela nossa “ complexada elite” o próprio “vira-lata”, o Brasil protagoniza a cena mundial, consagrando Lula como seu grande líder.

Hoje, Lula e o Brasil, estão na capa dos principais jornais e revistas mundiais, não é mais aquele Brasil de Carmem Miranda ou das mulatas dos carnavais.

Quais as possíveis consequências da sensação de um Brasil poderoso?

Uma delas é o aumento da propensão social a participar, a investir, a empreender. Talvez esse seja o fator psicológico, que dará sequencia à expansão da democracia real e ao crescimento econômico sustentável.

A década que está entrando, se configura como altamente favorável ao Brasil, a não ser que a rede Globo e o PIG (Partido da Imprensa Golpista) consigam emplacar mais um “caçador de marajás”, ou um “economista azarado” como no caso de seu atual candidato.

Infelizmente, o complexo de “vira-lata” continua perseguindo nossa elite politico-midiática, cujo principal sintoma é o sentimento de que “nada vai dar certo” e que leva ao imobilismo.

Em alguns casos não vai dar certo mesmo, mas de modo geral, o balanço do Brasil de hoje, já está acima do lucro.

Apesar dos problemas, das tragédias, das mazelas, das favelas, e dos complexados da mídia golpista… A vergonha de ser visto, pego e retirado pelas carrocinhas da vigilância sanitária do Primeiro Mundo, parece finalmente coisa superada, caso vencido.

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* Sociólogo, italiano, residente em Santarém. Escreve regularmente no blog do Jeso.

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