sábado, 1 de agosto de 2009

Bolsa-família: muito barulho por nada



José Paulo Kupfer

É impressionante a resistência das elites brasileiras a distribuir a renda neste país. Esta é uma frase que escrevo, de tempos em tempos, há muitos e muitos anos. Lamento muitíssimo repeti-la tanto. Mas não tem jeito: a resistência é incansável, férrea. Muito impressionante mesmo.

O último exemplo é a gritaria com o reajuste dos benefícios do Bolsa-família. O aumento de 9,68% decidido pelo governo, a vigorar a partir de setembro, desencadeou uma onda de ataques à decisão. De generosidade com o bolso alheio à falta de provisão para fazer o bem com o dinheiro dos outros, o governo está sendo malhado como um judas fora de época.

Atacam, de cara, o reajuste. Se tomassem meio minuto para consultar números básicos, verificariam que se trata de uma crítica sem base. De 2003, quando as bolsas começaram a ser pagas, até o novo valor do benefício, previsto para vigorar até 2011, o aumento da bolsa ficou em 40,07%. No período, considerando índices de 4,5% em 2009 e 2010, o IPCA variou 41,07%. Ou seja, o valor real do benefício permanece praticamente o mesmo desde o início do programa.

Escandalizam-se com o fato de que não há previsão orçamentária para fazer frente ao aumento agora decretado. Ora, ora, senhores, mas qual é o drama? O Bolsa-família, até o fim do ano, com a incorporação de mais 1,3 milhão de famílias, alcançará cerca de 13 milhões de famílias, e nem assim absorverá mais de 0,8% do Orçamento da União. Falando na língua que os críticos entendem bem: um corte de 0,1 ponto percentual na taxa Selic paga toda a conta do programa.

Além de bater nos “estragos” fiscais que, na visão deles, o reajuste provocaria, os soldados da resistência à distribuição de renda desceram da prateleira aquele amontoado de argumentos de palanque, sem sustentação nos fatos, a respeito da falta de mecanismos de saída do Bolsa-família e seu caráter assistencialista. Triste ver como encaram os brasileiros em situação de pobreza e miséria como meros números que perturbam o equilíbrio fiscal.

Se fossem lá ver ou, pelo menos, procurassem se informar com terceiros independentes sobre o que ocorre nas áreas em que o Bolsa-família opera, correriam menos riscos de se surpreender, como se surpreenderam ao descobrir que o programa funcionava e alcançava, com inesperada eficácia, o público-alvo.

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