Acabou a ópera bufa armada pela mídia no Senado:
1. A investida da tropa alagoana praticamente colocou na linha de fogo, indistintamente, todos os que devem algo em cartório. E com a consagração da denúncia-tapioca, a mídia armou a armadilha para seus próprios aliados: não pode minimizar nem o que for minimizável. Todos foram igualados por esse padrão rasteiro de cobertura.
2. O catão Pedro Simon se enrolou no apoio a Yeda Crusius.
3. O catão Arthur Virgílio se enrolou com professores de jiu-jisti e sua bolsa família.
4. A Época desta semana traz matéria informando que o catão Álvaro Dias, “um dos que mais cobram transparência”, não declarou US$ 6 milhões à Justiça.
Signifique que José Sarney é santo? Longe disso. Significa que as práticas políticas dos últimos 30 anos permitiram toda sorte de abusos e transgressões - que se incorporaram nos hábitos e costumes de todo o modelo político. Quando se envereda pelo mundo pantanoso das contribuições de campanha, não haverá procurador suficiente para dar conta do recado.
O modelo acabou, não se sustenta mais. A montanha de informações trazida pela Internet, pelos bancos de dados eletrônico, não permite mais a manutenção do velho jogo. Será uma crise por semana.
E ninguém ganha. Veja tentou envolver o Supremo na jogada dos grampos. Marco Aurélio de Mello e Sepúlveda Pertence não entraram. O Supremo entrou pela porta do gabinete do Gilmar e sua imagem foi exposta de maneira inédita. Perdeu o Supremo, perdeu a Veja, perdeu Gilmar.
A oposição entrou no jogo da mídia nesse episódio do Senado. A imagem do Senado foi destroçada e a da mídia continuou sofrendo desgaste diário e sistemático. Agora toca o Estadão a fazer esse escândalo com o pisão que levou no pé - tentando tratar como se fosse um heróico ferimento de guerra -, o Globo perdendo totalmente o rumo, a Folha nesse dilema entre entrar na onda ou manter a gratidão a Sarney, Lula se chamuscando com o apoio ao coronel.
O episódio Sarney é emblemático de fim de ciclo. Pela segunda vez (a primeira foi nas eleições de Lula) a mídia jogou tudo ou nada. E perdeu. Mas ninguém ganhou, nem Sarney, nem Lula. E a mídia conseguiu reforçar substancialmente a frente dos que a consideram o poder mais ameaçador do país.
Enfim, virou um jogo de perde-perde. Justamente por isso, a partir desta semana, instaura-se a paz. O modelo tornou-se totalmente disfuncional, sem ganhadores. O próximo capítulo terá que ser o da reforma política.
Luiz Nassif
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