Canto a minha terra porque por ela sou perdidamente apaixonado, qual Dirceu por Marília “... Se encontrares louvada uma beleza, Marília, não lhe invejes a ventura, que tens quem leve à mais remota idade a tua formosura”. Canto a minha terra com o mesmo amor e fascínio de Casimiro de Abreu em sua poesia “Meus Oito Anos” “... o céu bordado de estrelas, a terra de aroma cheia, as ondas beijando a areia e a lua beijando o mar” ou “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias “...Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores...” . Acredito que meu canto seja até um tanto choroso, mas nunca afetado ou muito menos de um bairrismo exacerbado. Canto “... porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta” , como dissera Cecília Meireles na sua poesia “Motivo”, musicada por Fagner. Sigo o dizer de Tolstoi “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”. Outro poeta, também, já houvera dito, “o poeta tem sangue e terra nas veias”. E quem sou eu para contestá-los?
Minha terra (que é a terra de todo brasileiro que a queira inteira, linda e preservada) é diferente porque está localizada na justa confluência de dois grandes rios amazônicos que se namoram desde tempos imemoriais: o de águas amareladas, possante, intrépido é o Amazonas, e o outro, de águas azuis, límpidas, lindo de marejar os olhos, é o rio Tapajós. Por eles os ribeirinhos navegam suas vidas; as velas surfam num deslizar de lida e frenesi; os poetas e artistas criam, se superam e se extasiam. Os ventos, afoitos, se entrechocam numa brincadeira infinda; o céu se mira no azul do Tapajós e tenta superá-lo, depurando sua derme e ainda tentando iludir os olhares com a corrida estonteante de nuvens brancas multiformes.
O que dizer das suas praias? Que são infinitas, alvas, virgens, renováveis, ímpares, bucólicas, românticas? Não, todos já o sabem belas e insuperáveis, todavia, gostaria de deixar bem claro que Alter do Chão, é, realmente, tal como está eternizada no mundo, exótica, maravilhosa, inesperada, mas, há outras no entorno do Tapajós como: Mapiri, Maracanã, Juá, Salvação. Maracangalha, Maria José, Ponta-de-Pedras, etc., acrescentando que, além das localizadas no município de Santarém, há outras como Pindobal, Porto Novo, Cajutuba, pertencentes ao município de Belterra. Sublinho, ainda, que até agora, pouco se falou do rio Arapiuns, entretanto, num futuro não muito longínquo, ele virá à tona e, principalmente, pela singularidade de suas águas claras, suas praias alvíssimas e sua floresta intocada e bela, tornar-se-á o novo sonho dourado dos brasileiros!
Canto a minha terra por sua gente humilde, sábia e de uma tradição cultural exemplar. Falo daquele santareno nato, tanto de nascimento quanto de coração, que carrega nas suas artérias os anseios dos seus filhos, netos e bisnetos, a singularidade da sua história, o amor inexplicável (mas procedente) por sua Terra e, mais especificamente, falo daquele que carrega no seu DNA a memória viva dos seus antepassados. Falo dos seus músicos, poetas, artesãos, escritores, políticos, versejadores, estudantes, trabalhadores, que, nunca deixam de derramar seus prantos por seu Amor (Santarém) e perpetuar o compromisso com nossa identificação cultural. Canto, também, os recantos encantados das várzeas, dos remos cadenciados que tocam o gado pras marombas; que travam as canoas nos remansos dos igapós para que se ouça o estrídulo dos periquitos e maracanãs e o esganiçar das guaribas; que transportam alunos para as escolas de alfabetização na outra margem do rio; que unem comunitários para abrirem palha em regime de puxirum e debater suas demandas em reuniões comunitárias.
Canto a vida do planalto de árduo trabalho e peregrinações diárias para os roçados e juquiras; o trânsito intenso de juntas de boi ou cavalo, camionetas ou caminhões que escoam a produção para as feiras da cidade; os banhos de igarapés de águas frígidas e as disputas de argolinha e futebol nos fins de semana ou dias comemorativos; as novenas e os cultos à beira das estradas de chão branco ou vermelho; os arrasta-pés dos tempos das boas safras onde se come e se bebe pelo ano todo e se vê a ternura, a beleza, recato e simplicidade das mulheres dos campos e aldeias.
Santarém, a pérola do Tapajós, no dizer do nosso consagrado poeta, quero ver-te sempre como rainha, que une povos, mormente através dos rios; que é a favorita para representá-los ou liderá-los nesta arrancada de independência política, pois, nós, os autênticos santarenos, lutamos por uma bandeira de ideais sacrossantos, verdadeiros: lutamos pelo bem dos nossos povos e a preservação e o desenvolvimento sustentável da nossa terra. Então, evoco os versos do cantor e compositor santareno, Beto Paixão: “... Se fosse pra escolher, escolheria você que é a cidade da foz. Dois rios te banham, cabocla, herdeira mais pura. Te dou minha voz...”.
Fala-se da recuperação do Teatro Vitória, que bom! Nunca é tarde para o arrependimento, quando se fala em erro da vontade e intenção humana! Queremos ver o movimento de atores, cenógrafos, personagens; queremos ver as peças encenadas no palco, ribalta, cenário, cortina e a platéia extasiada, aplaudindo e até com choro de emoção. Vamos comemorar, abrindo nosso teatro em grande estilo, levando as escolas para o anfiteatro. Vamos deixar que os jovens, através de musicais ou óperas, extravasem seu potencial, há muito contido, pois, santareno que é santareno arrebenta! Faz a diferença!
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