domingo, 7 de março de 2010

A solidão - Paulo Paixão


A esta etapa da minha caminhada,

Já exausto e precisando de uma

Sombra reconfortante, paro e penso:

Por que me tornei, de súbito, um solitário

Temeroso?

“Lobo da estepe”, um clássico de Hesse

Que proclama a solidão do homem

Neste universo grandioso

Que sufoca a pequenina (já por

Seu tamanho descomunal)

E imperceptível centelha de luz

Que somos todos nós...

O que vem por trás do tempo?

Ondas gigantes do mar insano?

A cada ano, a intensificação dos

Vendavais, do frio intolerável, do calor

E das secas infernais?

Pó trás do tempo o vento endoidecido

Obedece a ordens celestiais?

Vem a negrura, a vermelhidão e os ais?

Desespero, redemoinho de corpos

Inertes, desencontro de informações...

E o vento castigando impiedoso...

De nada adiantando as blasfêmias, as

Indignações!

Para onde vão os amores, as amizades

Verdadeiras?

Os bichinhos que criamos,

Para onde vão?

Muitos dos meus se foram

Na passagem do vento

E outros mais irão.

Solitários, continuaremos,

Uivando como lobos nas pradarias

Da imensidão?

Eu me vou numa das passagens

Do vento...

Temo sim, deixar para trás a música suave

E romântica;

A moça viçosa dos meus versos soltos;

O banho prazeroso nas águas frias

Das bicas e dos córregos;

O chão que pisei tantas vezes;

A casa de taipa que morei;

O velho limoeiro que reguei...

Lastimo tanto as separações

E nossa estada na Terra

Tão breve, mas tão aprazível...

Lamento as perdas dos amores,

Que, como as flores,

Mostram o seu viço, sua beleza,

Mas num certo dia,

Murcham e se perdem pelo chão,

Dando vez a outras

Que enfeitam e perfumam

Os jardins.

Maldita sina de todas as vidas!

Suas passagens são esquecidas!

Maldita terra, que tudo enterra,

Sem se importar com o desespero,

A dor e a saudade dos que ficam

E a incerteza, o medo e a eterna solidão

Dos que vão!

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