Na Prática, a teoria é outra.
por Tiberio Alloggio (*)
A luta política desencadeada pelos “supostos” desvios de conduta de José Sarney, a reação da “tropa de choque” reunindo grandes e antagônicas figuras da política brasileira e a cobertura facciosa do episódio pela mídia nos obriga a uma reflexão sobre a diferença entre os “princípios” que norteiam a vida das pessoas, e as “práticas” que de fato ocorrem na vida real.
Um exemplo significativo é questão da “liberdade de imprensa”.
Vivemos numa época onde “liberdade de imprensa” é um dos “princípios” pelos quais uma democracia tem o dever de assegurar a liberdade de expressão aos seus cidadãos, garantindo-lhes o direito de expressão, através a livre circulação de idéias e noticias.
Ocorre que no Brasil a informação tornou-se um monopólio privado no qual uma meia dúzia de grupos familiares domina os principais meios de comunicação. Uma espécie de “santidade midiática” que além de opinar, vive tentando impor aos governos e instituições suas próprias agendas e demandas políticas.
A monopolização tornou a mídia brasileira cada vez menos informativa e cada vez mais opinativa, onde a “opinião” (do jornalista e do seu patrão) antigamente limitada aos editoriais e às colunas opinativas, encontra-se agora em toda parte.
De fato, o que lemos e assistimos nos meios de comunicação, é a “liberdade de expressão” de uma meia dúzia de famílias, refletindo seus interesses políticos e econômicos. Único lugar do mundo (como diz Mino Carta) onde os jornalistas chamam o patrão de colega e o sindicato até se prontifica a entregar-lhe a carteirinha.
No momento em que a mídia noticia fatos como escândalos já não está mais nos informando. Ela está assumindo uma opinião, a dela. Não lhe interessa que seja apenas uma versão (a sua), se publicou é porque é verdade.
Ouvir ou ler seus “especialistas” tornou-se um tédio, pois já se sabe antecipadamente o teor do comentário, sempre coincidente com o do seu patrão. Não que o “especialista” não pode torcer (junto ao seu patrão) com o desgaste de patriarcas como José Sarney, mas ao menos deveria tentar “objetivar” as razões da capacidade de resistência de Sarney, que há mais de 50 anos “reina” no Maranhão.
Um domínio que pode ser caracterizado como cultural e/ou ideológico, que faz com que os eleitores elejam candidatos das duas maiores (e piores) bancadas do Congresso: a dos patrimonialistas e a dos fisiológicos.
Enfim, em nosso “regime de liberdade de imprensa”, muito do que se encontra na mídia não reflete a realidade, enquanto a grande parte da realidade não está na mídia.
Um outro exemplo do descompasso que caracteriza a relação entre “teoria” e “pratica”, é a questão do poder político.
Sabe-se que em política o objetivo é sempre o poder. Primeiramente a sua conquista e depois a sua manutenção. Para a sua conquista pode-se basear em “princípios”, no sentido de buscar o poder para efetivar os “princípios”.
Mas uma vez conquistado o poder, o vencedor tem que se equilibrar entre a manutenção do poder e/ou a efetivação dos princípios. Qual será então a postura dele?
A pessoa e seu caráter são importante na hora de tomar decisões, mas a questão não é meramente subjetiva, porque qualquer que seja sua escolha, suas ações não dependerão apenas do desejo pessoal.
Há pelo menos três casos interessantes para nos refletirmos em cima dessa contradição:
1) Lula gostaria (pessoalmente) de disputar um terceiro mandato. Mas além de não ter atuado abertamente nessa perspectiva, acabou desistindo. Qual é a explicação científica desse processo?
2) Aloísio Mercadante viveu o maior dilema de sua vida ao ter que escolher entre se manter no poder de líder da bancada petista abdicando de seus princípios, ou manter seus princípios e abdicar do cargo. Resolveu se manter no poder.
Se tivesse agido de acordo com seus princípios, o que teria acontecido na sequência?
3) Marina Silva está sendo convidada a se candidatar à Presidência do Brasil e para a defesa de seus princípios, estaria propensa a aceitar. Se por ventura vier a ganhar o poder o que acontecerá com ela?
O que vocês acham?
Observem o que vem ocorrendo com Barack Obama depois de eleito… E depois me digam!
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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente neste blog.
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