quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Artigo de Tibério Alloggio




Uma interpretação sobre o fator Dilma


Sempre acreditei muito no “taco” político de Lula, que considero o maior dos políticos brasileiros. Um excepcional navegador, capaz de perceber “no faro” os bons caminhos e as melhores oportunidades.

No caso da crise financeira mundial, Lula foi talvez a única autoridade nacional e internacional que percebeu o seu real alcance. A “marolinha” no Brasil só foi um pouco maior porque nossos empresários não acreditaram nele, preferindo rezar na equivocada cartilha dos “especialistas” da mídia golpista que vivem espalhando o terror pelos meios de comunicação.

Porém, embora seja assumidamente “lulista”, continuo cultivando alguma pretensão de ser também um “lulólogo”. Por isso, confesso que ainda hoje não consegui entender a preferência de Lula para Dilma Rousseff como sua sucessora.

A hipótese mais divulgada é que Lula quer transformar a eleição de 2010 num plebiscito sobre seus governos, contrapondo-os ao do adversário (José Serra). Para tanto, teria escolhido uma pessoa com “a cara do seu governo” e que de quebra fosse uma mulher. Nesse sentido, Lula estaria treinando Dilma à sua imagem e semelhança.

Uma “tacada” interessante para mexer com o coração do povo. Mas que fica devendo à mais simples das perguntas: qual é a cara do governo Lula?

Lula está procurando criar marcos do seu governo para colar na imagem da Dilma. O desenvolvimento, os biocombustíveis, o PAC, Minha Casa, Minha Vida e agora o pré-sal, que sem duvida nenhuma são grandes feitos.

Porém, a grande cara do governo Lula é a inclusão social, através da transferência de renda e o bolsa família. Que não gruda nem um pouco em Dilma, pois a única bolsa que combina com ela (com todo o respeito) é a das grifes dos estilistas, não o bolsa família.

Então, se Dilma não tem cara de “mãe do povo” por que Lula insistiu tanto no nome dela?

Uma explicação plausível é que Dilma era apenas um capítulo de uma estratégia que não vingou. A viabilização de um terceiro mandato consecutivo de Lula.

Mas agora que não há mais chances para o terceiro mandato, como Lula irá fazer para que o seu eleitorado venha a digerir Dilma?

A principal característica de Lula é a sua veracidade pessoal. Ele diz o que pensa. As vezes extrapolando, mas sempre defendendo com convicção o que diz.

Acima de tudo Lula é verdadeiro, e nem de longe se compara com o perfil da maioria dos políticos brasileiros, cuja principal característica é a dissimulação.

O recente “reencontro” de Lula com Collor pode ser criticado, mas não passou a noção de que Lula estaria sendo falso. E o mesmo pode ser dito na sua defesa de Sarney. Lula não se importa com as críticas elitistas, o que vale mesmo para ele é que está sendo sincero.

E o povo, concordando ou não, acredita que Lula está sendo sincero.

Por tentar grudar em Lula a imagem de mentiroso, a mídia golpista e a raquítica oposição demo-tucana cansaram de apanhar feito um doido. Mas foi só Lula anunciar Dilma para a sua sucessão que voltaram a repetir a dose com ela. Na tentativa incessantemente de passar a impressão de que Dilma não diz a verdade, que estaria sempre escondendo alguma coisa.

Foi dessa forma que o demo Agripino abriu o fogo contra Dilma ao acusá-la de ter “mentido” sob tortura, e não delatar seus companheiros de luta ao regime militar. Agripino Maia, um resíduo político da ditadura, acabou esculachado publicamente, mas não por isso a mídia golpista mudou de estratégia.

Fabricaram então o falso dossiê de FHC, as denúncias fajutas da “charuteira” Denise Abreu. A ficha falsa de terrorista da Folha de São Paulo, e os recentes factoides de Lina Vieira. Todas armações para vender a ideia que Dilma é pessoa falsa, que tem algo a esconder. E que foge das indagações mais críticas com agressividade e arrogância.

Até sua cirurgia plástica foi usada pela mídia suína para demonstrar que Dilma melhorou sua imagem física, mas não a sua imagem psicológica, pois sua nova face é falsa.

A ‘fúria” suína da mídia chegou ao cúmulo de retratar Dilma como “estelionatária” só pelo fato de ter declarado (por um erro) um “doutorado” que nunca fez. Enquanto isso, José Serra, que nunca se formou em nada, continua sendo bajulado pela mídia golpista como “economista” e/ou “engenheiro” segundo consta em seu curriculum oficial comprovadamente falso.

Se, como tudo indica, a candidatura de Dilma prosperar, ela terá todo o espaço da propaganda politica gratuita, para driblar as maquinações da oposição e da mídia golpista, e se mostrar como realmente é.

Mas até lá Dilma estará suficientemente treinada para superar as provocações? Como se sabe José Serra não é político de primeira viagem. É “macaco velho”, experiente e traiçoeiro como todo político dissimulado.

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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente no blog do Jeso (www.jesocarneiro.com)


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