por Tiberio Alloggio (*)
Recentemente comentei nesse mesmo espaço que no Brasil só se consegue governar com maioria na Câmara dos Deputados, e principalmente no Senado, onde o peso especifico do comando é maior.
Os governos, acostumados a legislar mediante Medidas Provisórias, para aprovar seus projetos, precisam de maioria nas duas casas do Congresso.
Lula não é nenhum desses “asneiristas políticos” tipo Rede Globo. É o mais esperto dos políticos brasileiros que percebe como ninguém as estratégias. Ele sabe que não será suficiente eleger Dilma. Que precisará também de uma base parlamentar segura.
No entanto, Lula não parece estar preocupado em fazer essa maioria apenas com o PT. Na parada dele, estão também a maioria do PMDB e demais partidos auxiliares.
O desfecho do caso Sarney no Conselho de Ética trouxe à tona a existência desse novo bloco politico, que pode ser definido de Partido do Presidente Lula.
A oposição, que tinha apenas seis votos, precisava de pelo menos mais dois para barrar o arquivamento das denúncias contra José Sarney. Que poderiam vir dos três senadores do PT integrantes do Conselho de Ética.
No entanto, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, orientou os senadores do partido para que votassem contra o pedido de reabertura dos processos. Com a seguinte motivação:
“…Oriento nossos senadores a votar pela manutenção do arquivamento das representações, como forma de repelir a tática política da oposição, que deseja estabelecer um ambiente de conflito e confusão política, no momento em que os grandes temas do Brasil, como o marco regulatório do pré-Sal e a superação da crise internacional são pautados pelo presidente Lula para o necessário debate nacional…”.
Portanto, aos 3 senadores do PT (Ideli Salvatti, Delcidio Amaral e João Pedro) restavam duas opções: acatar ou rebelar-se. Resolveram acatar, optando para dar mais uma pisada em cima dos “princípios éticos” de mentirinha da moribunda oposição demo-tucana.
Revoltado com a posição do PT, o senador meio-tucano Flávio Arns anunciou a sua saída, ou melhor sua volta ao PSDB. Tudo isso ocorreu no mesmo dia em que Marina Silva também anunciava sua saída.
Com isso, o PT que tinha uma bancada de 12 senadores ficou reduzido a 10.
Desses, apenas três tem mandato até 2014. O caquético Eduardo Suplicy e o Tião Viana, eleitos em 2006, enquanto João Pedro é suplente do ministro Alfredo Nascimento.
Todos os demais terão que disputar a reeleição em 2010.
Na questão Sarney, os senadores petistas vivenciaram o maior dos dilemas: seguir a orientação do partido, que só faz o que o presidente Lula manda, ou rebelar-se até o ponto de sair do partido.
O senador Delcidio Amaral sintetizou muito bem esse dilema: ser governo não tem apenas bônus, tem ônus também. E o caso Sarney foi a hora do ônus.
Mas onde estariam os bônus? Quais seriam os bônus?
Para os demais senadores da base aliada, principalmente do PMDB, os bônus são evidentes: cargos na Administração Federal e a aprovação e liberação de verbas para os projetos.
Mas seriam os senadores do PT “fisiológicos” também? Teriam conseguido se eleger com base em promessas de cargos e verbas? Quem os conhece sabe que não se trata disso.
A hipótese mais provável é que prevaleceu a visão de Lula, segundo o qual a “Crise do Senado” foi fabricada e alimentada pela mídia golpista, para satisfazer a “opinião publicada”. Mas que a verdadeira “opinião pública” está se “lixando” para essa, pois não suporta mais factoides e manipulações. Tanto que, seja qual for o tamanho da armação contra Lula e seu governo, em nada afeta sua enorme popularidade.
E como se Lula tivesse dito aos senadores petistas: “Vocês só querem os bônus?Tem que aguentar os ônus também. Mas não se preocupem com seus eleitores. Eles estão se “lixando” para tudo isso, pois sabem que tudo não passa de mais uma das inúmeras crises inventadas pela oposição para tentar me derrubar. O povo continua me apoiando, de forma irrestrita. Vejam os meus índices de aprovação. O povo quer Lula, Sarney é apenas um detalhe. Em 2010, vocês terão o meu apoio, vou subir em seus palanques e vocês serão reeleitos”.
Será mesmo que o apoio de Lula em 2010 será capaz de garantir a reeleição aos senadores?
A julgar pelo lenga-lenga no caso Sarney, o senador Aloísio Mercadante deve ter refletido muito nisso. Se não fosse, não teria baixado a cabeça e voltado atrás.
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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente o blog do Jeso (www.blogdojeso.com).
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