segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Santarém que nos espera

por Tiberio Alloggio (*)
Uma coisa é a Santarém dos nossos sonhos, a cidade que gostaríamos ter. O que inclui, além dos desejos, um forte componente ideal. Outra coisa é a Santarém que temos de fato e aquela que poderemos ter, que depende das opções do presente.
Até alguns anos atrás era a classe média que liderava o povo, até porque esse não tinha os seus próprios líderes. Mas agora que os têm, já é o suficiente para a classe média perceber que não manda mais, que já não é mais Santarém.
Ainda que os “brucutus machistas considerem a prefeita Maria do Carmo apenas “uma mulher”, sua pegada na grande maioria do povo santareno segue indiscutível, o que a torna “indigerível” aos refinados estômagos da nossa classe média.
Depois da “árdua resistência” (nacional e local) na trincheira, contra a politica petista de distribuição social dos benefícios do desenvolvimento, a classe média desanimou de vez. Perdeu inteiramente as esperanças de uma Santarém que quer, ou gostaria de ter.
Derrotada, a elite cansou ao ponto de renunciar às mobilizações populares. Não acredita mais nelas. Até porque percebeu que o povo está todo do outro lado.
Não acreditando que pela via popular possa mudar alguma coisa. Ficou apenas na busca estéril de um pretexto jurídico para ganhar um improvável “tapetão” ou (escondida atrás de um computador) ficando digitando barbaridades anônimas na rede virtual.
Infelizmente, mesmo não sendo uma classe monolítica, a hegemonia na classe média continua pertencendo aos rabugentos, aqueles que acham que a Santarém (engolida pelos buracos do inverno amazônico), acabou (num buraco) para sempre.

Mas a Santarém que acabou é aquela que decorreu dos erros praticados ao longo de muitas décadas por essa mesma elite, que sempre governou olhando para seus interesses econômicos imediatos.
Aquela mesma que adora gastar com seus bichos de estimação, mas que procura desconhecer a existência do salário mínimo e dos direitos trabalhistas.
Hoje, falta à classe média um(a) líder. Capaz de se projetar acima do conjunto, que por definição é médio, o que se confunde com mediocridade. Um líder capaz de representar seus anseios (não rabugentos) e mostrar capacidade para realizá-los.
Durante a década que está se acabando, Santarém mudou sua condição de economia subdesenvolvida, essencialmente agrícola e rural, para um Município em desenvolvimento, em constante processo de transformação.
No rumo do Brasil de Lula, Santarém cresceu economicamente, e encontra-se hoje em franco processo de urbanização, que já a caracteriza como um grande polo regional de distribuição de serviços.
Uma grande área metropolitana que desenvolveu uma nova classe média cheia de esperanças, que acredita que a educação é a chave para um desenvolvimento justo.
De agora em diante, a nossa velha elite terá de conviver com essa nova classe média, que atribui aos governos do PT os avanços que conquistou.
É inegável que no último ano e meio, Santarém sofreu sérios problemas políticos conjunturais, tendo até quem pronosticava o enterro de um suposto governo natimorto. Só que estruturalmente, Santarém estava e continua estando muito bem senhor.
No entanto, conjunturalmente, o quadro santareno ficou desanimador aos olhos da nossa elite, ainda mais quando amplificado pelos nossos comunicadores de meia tigela, que acompanham e alimentam os maus humores desse seu público.
Mas as conjunturas mudam, ou podem ser mudadas a curto prazo, enquanto o estrutural segue permanentemente. E a retomada de obras e investimentos, demonstram que Santarém não acabou e tampouco vai acabar.
Maria do Carmo segue firme e forte na condução de seu programa de governo, que é o que interessa ao povo, que dá sustentação política ao governo. Seu grupo politico nunca foi tão forte, compondo Secretarias de Estado e até Ministério. Cujas decisões politicas a ser tomada no presente influirão ou determinarão ainda mais a configuração futura da nossa cidade.
E a nossa velha classe média? Sobrou-lhe alguma coisa além do autismo rabugento?
Seu maior desafio será tentar romper com essa condição, que lhe impede o “diálogo” com o resto da sociedade, para tanto precisa ter humildade e reconhecer que a Santarém que está ai, não é “tão horrorosa assim ” como imaginam seja.
Mais difícil ainda, será se acostumar a projetar uma Santarém que não se limite ao desejado pela classe média, o que os remetem ao esforço de pensar numa Santarém para todos.
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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente no blog do Jeso (jesocarneiro.com.br).

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